quarta-feira, 6 de julho de 2011

Para mulheres de luta


Hoje, eu vim com um pesnamento diferente de postagem. Mas ao abri meus emails, deparei com uma carta muito forte sobre a luta por um Brasil melhor. É a carta da professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, que imbuida de coragem, desabafou em uma audiência pública sobre educação. Ela falou por todos aqueles que acreditam numa educação forte e valorzada para melhorar o futuro do nosso país. Ela falou pelos professores, pelos pais dos alunos. pelos próprios alunos e por toda classe trabalhadora, tão desvalorizada por aqui.
Pois bem, vou reproduzir a carta que recebi. O conteúdo trata da recusa da professora em receber o prêmio Brasieliro de Valor 2011, onde várias entidades, empresas e personalidades foram agraciadas. Segue a carta. Lembrando que o TPM é um blog para mulheres em toda sua expressão.

Natal, 02 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o
prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, ?pela relevante
posição a favor da dignidade humana e o amor a educação?. A
premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo
dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida
de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a
escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do
trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de
trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do
Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número
de professores talentosos que após um curto e angustiante período de
exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de
vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é
destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo
de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi
antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor
Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a
empresários da educação. Em categorias diferentes também foram
agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura
Cosméticos, McDonald?s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a
políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon,
Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e
personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da
rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de
qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do
Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação.
Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que
norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de
1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado.
Assim como o movimento dos professores sou contrária à
mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo
PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável
de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada
por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser
administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola
e às chamadas ?organizações da sociedade civil de interesse
público? (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever
para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado
exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas.
Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se
autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas
apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de
negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo
significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando
ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente
privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da
internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de
trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham
comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar
com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários
da educação.

Saudações,
Professora Amanda Gurgel
Entenda o que é o PNBE, que já premiou a Rede Globo.

http://www.youtube.com/watch?v=yFkt0O7lceA

3 comentários:

Fabrine Alves Céu disse...

Olá minha querida maiga blogueira, passando para deixar um xero e dizer que seu texto está muito bem feito! Bjo!

TPM disse...

Brigadu querida e valeu pelo xero.. outro p/ vc.
Bjks TPM

Thay Negrão disse...

O link do youtube deu erro, mas eu me recordo bem dele...
Tinha que ser uma mulher para representar tantos e tantos educadores mal remunerados!!!!!

Beijãoooo...